Pará começa restauração na área certa, mas precisa garantir renda a quem está na Triunfo do Xingu defendendo a floresta
Míriam Leitão
14/03/2025
Unidade de conservação mais desmatada do país, Triunfo do Xingu será a primeira a ser concedida num novo modelo de concessão público privada para preservar a Floresta Amazônica, como revelou a reportagem de Ana Lúcia Azevedo, publicada nesta sexta-feira, no GLOBO. Eu conheço a APA, porque estive lá em reportagem. É, de fato, o melhor lugar para começar esse projeto de restauração pela destruição que lhe foi imposta nos últimos anos.
A oferta será de uma parte apenas da APA, área de 10,3 mil hectares e será feita no próximo dia 28, na B3. O modelo prevê gerar emprego e renda por meio da venda de créditos de carbono. Um projeto diferente de outros que conheço, pois, possibilita a retirada de árvores dentro de um planejamento, de regras de manejo. Troquei mensagens esta manhã com o governador do Pará, Helder Barbalho, e ele falou que, ainda este ano, duas outras áreas, também muito desmatadas, devem ser concedidas ao setor privado para a recuperação.
- Duas novas áreas de aproximadamente 15 mil hectares cada serão também licitadas este ano, com uma particularidade: serão aproximadamente 70% para restauro e 30% para REDD+ ( conservação dos estiques florestais ainda existentes na área) - disse o governador.
Trazer o grande investidor para recuperar a Área de Preservação Ambiental de Triunfo do Xingu é importante. Mas tão importante quanto esse movimento de recuperação é criar mecanismos e modelos de investimentos que gerem renda para os pequenos produtores que estão lá resistindo na defesa da Floresta Amazônica, como Sr. Joaquim e dona Generina que conheci quando estive no local, em 2022, para uma grande reportagem que se transformou num documentário e no livro "Amazônia na encruzilhada".
O casal mantém intocada mais de 80% da floresta de seus 32 hectares - ultrapassando o que determina a lei, tão constantemente desrespeitada - e mostra que, mesmo assim, é possível ser produtivo. Eles reservaram oito hectares para produção, só que a maior parte da cultura é de cacau, espécie nativa da região, o que faz essa fatia da terra ser considerada também de preservação. Além disso, produzem arroz, feijão, milho, macaxeira, frutas e têm viveiros nos quais cultivam mudas de espécies nativas para replantio.
Mais do que criar empregos, é fundamental que esses projetos tenham uma engenharia financeira que garanta a quem vive nessas áreas e tem um projeto exemplar, como Sr. Joaquim e dona Generina, recursos pela manutenção da floresta em pé. Porque lá tem crime, mas tem muita gente boa trabalhando.
Na minha passagem por essa APA - criada pelo governo federal, após o assassinato da irmã Dorothy Slang, em 2005 - aprendi muito sobre o que está errado, mas também sobre o que dá certo na Amazônia.
Quando estive em Triunfo, em 2022, quase não vi floresta. Rodávamos quilômetros vendo floresta apenas no horizonte. O que mais testemunhei nessa viagem foram áreas desmatadas, pastos abandonados, e áreas griladas. Essa é uma estratégia dos grileiros, eles desmatam tudo, roubam a madeira e deixam o pasto ali como uma reserva de valor, numa espécie de "se colar, colou". Isto é, se nenhuma autoridade tomar atitude, em alguns anos eles alegam que estão na terra há muito tempo e pleiteiam a propriedade.
Na minha passagem por Triunfo do Xingu, acompanhei a busca por criminosos em uma operação do Ibama e da Polícia Federal de repressão à grilagem e ao desmatamento . Em cinco anos, essa APA teve nada menos do que 103 km² de floresta derrubada para criação de pasto. A sua escolha para essa primeira concessão é acertada.
https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2025/03/para-comeca-restauracao-na-area-certa-mas-precisa-garantir-renda-a-quem-esta-na-triunfo-do-xingu-defendendo-a-floresta.ghtml
UC:APA
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