Óleo de navio chileno atinge santuário ecológico no PR

O Globo, O País, p. 12 - 20/11/2004
Óleo de navio chileno atinge santuário ecológico no PR
Corpo de mais um tripulante aparece no Porto de Paranaguá

O vazamento de cerca de um milhão de litros de óleo combustível do navio chileno Vicuña, que explodiu na última segunda-feira no Porto de Paranaguá, atingiu a Ilha de Superagüi, santuário ecológico do Paraná. A reserva foi transformada no Parque Nacional de Superagüi em 1989 e tem preservada a cobertura de Mata Atlântica, restingas, manguezais e praias desertas, além de abrigar animais de espécies raras e em extinção. O óleo também já chegou ao litoral de São Paulo.
Uma tartaruga marinha e um boto foram encontrados mortos perto da reserva, contaminados com os resíduos de óleo que chegaram ao litoral Norte do Paraná. Outro patrimônio natural do estado, a Ilha do Mel, também foi atingido. Os 120 técnicos da empresa Ecosorp, uma das contratadas pela Catalini Terminais Marítimos para a limpeza das áreas poluídas, trabalharam durante todo o dia na ilha, com a ajuda de moradores e comerciantes. Foram encontrados biguás e maçaricos (aves marinhas) mortos nas praias do Forte e Encantadas, bastante freqüentadas por turistas.
Ibama: limpeza das áreas pode durar até oito meses
De acordo com o Ibama, a limpeza parcial das baías deve durar de seis a oito meses, mas a recuperação de toda a área atingida pelo vazamento pode levar vários anos.
Foi encontrado, no fim da tarde de ontem, o corpo de mais um tripulante morto na explosão do navio. O corpo apareceu na superfície, perto da popa (parte traseira) da embarcação e foi levado ao Instituto Médico-Legal de Paranaguá para o reconhecimento. O vazamento de óleos diesel e bunker (usado no motor de navio) do cargueiro chileno só foi contido às 14h de ontem.
De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, que sobrevoou a área atingida, a mancha está cada vez mais espalhada.
- Não há mais uma mancha contínua, mas fragmentos. Isso não significa que o problema é menor. O óleo se dilui na água e vai para o fundo do mar ou fica retido na vegetação costeira. Já vi que os manguezais estão bastante comprometidos - disse Cheida.
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP), está monitorando a mancha de óleo, que segue em direção ao litoral sul de São Paulo, e pretende multar as empresas responsáveis.
- Vamos demorar para chegar ao valor total da punição porque cada nova conseqüência do vazamento agrava a multa. Estamos fazendo dois vôos de manhã e dois à tarde e temos equipes de especialistas em fauna e flora, que avaliam o impacto em áreas de preservação - disse o presidente do IAP, Rasca Rodrigues.
A agência marítima Wilson Sons, a empresa Sociedad Naviera Ultragas, que fretou a embarcação, a seguradora P&I e a Catalini foram multadas mais uma vez em R$1 milhão pela demora na contenção da mancha. Anteontem elas havia sido multadas também em R$1 milhão.

Empresa diz que tanques cheios causaram tragédia
Para consultor, norma de segurança foi violada
O Vicuña atracou no píer da Cattalini Terminais Marítimos, no Porto de Paranaguá, com os quatro tanques de combustível cheios de óleo bunker. A embarcação foi abastecida antes da descarga de metanol e óleo diesel no terminal privado, segundo o consultor da Cattalini Henrique Lages. Ele concluiu, após uma investigação interna sobre o acidente, que a desobediência às normas de segurança portuária provocou o desastre ambiental no litoral do Paraná.
- Não estamos procurando os culpados, estamos avaliando o óbvio. O navio não deveria estar com os tanques cheios. Se estivesse com a quantidade correra de combustível, entre 50 e 100 metros cúbicos de óleo bunker, não haveria a tragédia ambiental que ocorreu - afirmou.
O capitão da embarcação, Jaime Lopes, já prestou depoimento à Polícia Federal e à Capitania dos Portos, sempre escoltado por representantes da seguradora P&I.
O navio tinha cinco milhões de litros de metanol no tanque quando as explosões ocorreram. Dois outros tanques carregavam 150 mil litros de óleo diesel. Um deles foi destruído na explosão, provocando o vazamento de boa parte do óleo. Também houve vazamento nos quatro tanques da popa, que carregavam 1 milhão 115 mil litros de óleo bunker.

O Globo, 20/11/2004, O País, p. 12
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