Venda ilegal de madeira

CB, Politica, p.3 - 03/04/2005
Venda ilegal de madeira
Ex-funcionários afirmam que, em. 2003, o então chefe da Floresta Nacional de Três Barras (SC) favoreceu empresas madeireiras da região e permitiu a comercialização irregular de toras sem notas fiscais
A venda irregular de madeira na Floresta Nacional (Floria) de Três Barras (SC) estaria acontecendo desde 2003, antes da chegada do acampamento do MST, segundo denúncia de servidores e ex-servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Dois profissionais que prestavam serviços na floresta naquele período afirmaram ao Correio que foram retiradas cargas de madeira sem medição, sem notas fiscais e em locais escolhidos pelos madeireiros. 0 ex-chefe da Floria em 2003, Marcos César, afirma que apenas. entregou a madeira que havia sido vendida na gestão anterior.
O vigilante Evaldo Maçanero, que trabalhava numa empresa prestadora de serviços, disse que recebia informações de caminhoneiros. Segundo ele, todo o procedimento mudou com a chegada de César: "Antes, não saía um caminhão sem nota. Aí mudou. Com uma nota eles levavam dez viagens". A medição das cargas teria passado a ser feita de forma improvisada. "0 Marcos (César) chegava e falava para o motorista: 'Quanto dá essa carga aí?' 0 motorista dizia que dava tantos metros, e ele fazia a nota", relatou o ex-vigilante.
Ele acrescentou que a marcação das árvores a serem cortadas antes era feita por funcionários do Ibama. Tinha que ser madeira fina,, árvores bifurcadas ou muito próximas. Isso também teria mudado: ‘Os motoristas me contavam que quem marcava as madeiras era o pessoal que ia buscar. Eles iam lá e só tiravam as grossas. Agora tem talhão (lote de árvores) que está tombando. Eles cortaram até num talhão que era de pesquisa, da Embrapa", afirmou Maçanero.
0 ex-vigia disse que foi pressionado por César para não prestar depoimento no Ibama em Florianópolis, quando foi aberta sindicância para apurar as denúncias. "Ele veio aqui em casa e disse: "01ha„ou você assina para mim esse papel, dizendo que não tem nada contra mim, ou eu não deixo a firma mandar você embora. Eu queria que a firma pagasse os meus direitos. Fiquei nove anos lá. Queria receber FGTS, os 40% de multa. Fui obrigado a assinar".
Sem nota fiscal
0 motorista Jair Kovaski, que transportou madeira da Flona para a Laminadora Três Barras, disse que o dono da madeireira, conhecido como Pichica, marcava as árvores que queria cortar e nem sempre emitia nota fiscal: "O Pichica cortava onde queria. E mandava a gente tocar sem nota fiscal. A maior parte não tinha nota, era no grito". Ele disse que retirou 36 cargas, 700 m3, só na primeira quinzena e que fez esse serviço durante cerca de oito meses. Ex-servidores do Ibama afirmaram que, quando foi denunciada a venda irregular de madeira, o chefe da Flona teria jogado em açudes a madeira que já estava cortada.
A reportagem do Correio esteve na floresta e identificou dois açudes cheios de toras da madeira. César afirmou que aquela madeira foi colocada ali pelo Exército, que fez algumas pontes durante manobra feita na floresta. Ele disse que não fez licitações para venda de madeira enquanto esteve no comando da Floria: "Como é feito o pagamento antecipado na venda de madeira, eles têm um tempo para retirar. Eles terminaram de tirar nos talhões onde já tinham pago. Eram todos onde tem acampamento dos 'sem-terra', do outro lado da BR-280". César acrescentou que duas sindicâncias abertas pelo Lhama para apurar essas denúncias foram arquivadas. "As pessoas indicadas foram ouvidas, mas todas disseram que desconheciam os fatos. O jurídico do Ibama arquivou tudo".

CB, 03/04/2005, p. 3
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