CB, Cidades, p. 26 - 16/02/2007
DF perdeu metade do cerrado
Índice de preservação do bioma na capital federal é menor que o do Brasil, que tem 61% de áreas remanescentes. Ocupação desordenada do solo provocou degradação
Elisa Tecles
Da equipe do Correio
O resultado do mais novo levantamento sobre o estado de preservação do cerrado aponta: 61,2% do bioma está conservado. O estudo apresentado ontem pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) identificou as regiões que mantêm a vegetação característica e trouxe um resultado mais otimista do que previsões anteriores. A pesquisa levou em consideração imagens de satélite dos 11 estados que compõem o cerrado brasileiro e resultou em uma média nacional que não reflete a situação de todas as regiões. Enquanto Maranhão e o Piauí contam com cerca de 90% do cerrado preservado, o Distrito Federal tem apenas 51%. Esse número só não é ainda menor porque o DF conta com três grandes áreas de preservação ambiental protegidas da devastação: O Parque Nacional de Brasília, a Estação Ecológica de Águas Emendadas e a Área de Preservação Ambiental Gama e Cabeça-de-Veado.
O diretor-geral da Embrapa Cerrados, Roberto Teixeira, considerou positivo o resultado da pesquisa e acredita que o índice está acima das expectativas. "Vimos que o cerrado está preservado e as terras são bem aproveitadas, mas alguns pontos foram degradados e precisam passar por uma recuperação", explica Roberto. Entretanto, o dado foi visto com preocupação pelo subsecretário de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente, Gustavo Souto Maior.
"Esse número é muito alto se pensarmos que o DF existe há pouco tempo. Isso mostra que a ocupação do solo foi desordenada e a vegetação natural está ameaçada", afirma.
Segundo o subsecretário, a ocupação sem controle das terras é a principal causa da devastação do cerrado no Distrito Federal.
Condomínios irregulares, assentamentos criados sem nenhum planejamento e a construção de casas em locais indevidos ressaltam o problema. "Precisamos urbanizar essas áreas e incentivar a população a reflorestar os lugares que tiveram a vegetação retirada, como Samambaia e Recanto das Emas", defende Souto Maior.
Corredor ecológico
O reflorestamento deve ser uma das principais medidas da nova secretaria para a preservação do cerrado. Além disso, o governo estuda a implementação de corredores ecológicos entre as unidades de conservação para permitir que os animais não fiquem ilhados em áreas limitadas. Ainda devem ser realizados mutirões para a plantação de novas árvores nas regiões administrativas onde a falta de vegetação for considerada crítica. Está em estudo a criação do Instituto Brasília Ambiental, que reunirá técnicos para planejar as atividades de proteção ao meio ambiente.
A pesquisa da Embrapa considerou áreas que possuem vegetação remanescente, mas não discrimina quais delas sofreram ocupação humana. O professor do departamento de engenharia florestal da Universidade de Brasília Paulo Nogueira explica que cerca de 80% do cerrado no DF já foi afetado por algum tipo de atividade, como queimadas ou criação de gado. "Mesmo as áreas que hoje são reservas ecológicas um dia já foram chácaras ou tiveram sua paisagem alterada. Parte da vegetação desses locais pode ser natural, mas nem sempre toda a fauna e a flora foram preservadas", diz.
O pesquisador Edson Sano, responsável pelo estudo da Embrapa, lembra que a exploração da terra para a agricultura e a pecuária são dois dos principais fatores que comprometeram o bioma brasileiro. "Temos tecnologia para conseguir uma produtividade maior que a atual sem comprometer mais terreno do cerrado. O objetivo é manter esses 61% de área preservada e continuar produzindo", afirma.
A segunda etapa da pesquisa deve terminar em março e identificará quais dos terrenos analisados estão sofrendo ocupação humana e quais são as espécies de cerrado existentes em cada localidade.
CB, 16/02/2007, Cidades, p. 26
Cerrado
Unidades de Conservação relacionadas
- UC Brasília (PARNA)
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