Laboratório para recuperação da mata

O ECO - www.oeco.com.br - 13/05/2009
No dia 1o de abril de 1934, o Ministério de Agricultura, sob o comando do militar Juarez Távora, que quatro anos antes havia ajudado Getúlio Vargas a subir ao poder, transformou o Campo de Sementes de Lorena, no interior de São Paulo, em horto florestal. A medida foi o primeiro passo para que a área, completamente descaracterizada por diversas culturas agrícolas, se transformasse em um campo de experimentos em recomposição vegetal.

Localizada a 180 quilômetros da capital paulista, no Vale do Paraíba, Lorena fica entre os principais centros consumidores do país, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Nascida como ponto de apoio das expedições do século XVII que iam a Minas Gerais à procura de ouro, a cidade sempre apresentou "vocação agrícola", tendo se desenvolvido com as culturas de cana-de-açúcar, café e em menor escala o arroz, que se beneficiavam da estratégica localização. Atualmente, a região está voltada para a pecuária.

Com esse histórico, poucas matas no município foram preservadas. Segundo estudo dos engenheiros Nilton Paes Junior e Silvio J.C.Simões, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2000, o Médio Vale do Paraíba, onde Lorena está situada, possuía apenas 17,4% de mata nativa e 13,4% de capoeiras. Outros 49,4% estavam ocupados por campos e pastagens.

Já na década de 1920, a vegetação nativa de Lorena, formada por várzeas e florestas de portes variados, sofria intensamente com a agricultura. Tanto que, em setembro de 1923, a prefeitura da cidade doou ao governo federal uma área de cerca de 250 hectares para a construção de um Campo de Sementes, a mesma área que Juarez Távora transformou em horto florestal na década de 1930.

O "reflorestamento" do local começou em março de 1934, inicialmente com o plantio de quase duas mil mudas de eucalipto. Nos anos que se seguiram, os gestores da área realizaram uma verdadeira experimentação vegetal, plantando mudas de todos os biomas brasileiros em uma região típica de Mata Atlântica. Ali, é possível encontrar coqueiros da bahia (Cocos nucifera), castanha do Maranhão (Bombacopsis glabra), pacová de macaco (Swartzia langsdorfii), seringueiras (Hevea brasiliensis), entre muitas outras. Tudo está documentado. Um banquete para quem deseja estudar o comportamento de espécies exóticas na Mata Atlântica ou as possibilidades de recuperação do bioma.

"Como aqui as áreas foram manejadas de várias maneiras, há vários níveis de regeneração. Lorena também passou por muitos ciclos, então é possível realizar pesquisas nos níveis históricos de ocupação do solo", explica Susan Domaszak do Bonfim e Araújo, engenheira florestal da unidade.

Esta porção de terras foi transformada em Floresta Nacional (Flona) em 2001. Antes, era uma Estação Florestal de Experimentação.

História recente

Atualmente, a área ainda pode ser considerada um campo de experimentos. Sob o comando de Vinícius Mattei, que por dez anos comandou a Floresta Nacional Contendas do Sincorá (BA), a unidade de Lorena possui cerca de 90 espécies de plantas de diferentes biomas e vários modelos de reflorestamento. Ela faz parte do Mosaico de Unidades de Conservação da Serra da Mantiqueira.

Além do plantio de espécies nativas, em 130 hectares, há um remanescente de cultivos de arroz, alagado em grande parte do ano, onde são aplicadas técnicas como transposição de solo de áreas conservadas para a região a ser reflorestada, instalação de poleiros artificiais para pássaros e "chuva de sementes", tudo visando a recuperação da área. Também há parcelas com antigos bosques de eucalipto, dividindo espaço com uma vegetação mais baixa e rica em espécies de Mata Atlântica.

A Flona de Lorena também disponibiliza sementes. Todos os anos, são doadas para projetos da prefeitura e escolas cerca de 50 mil mudas e ainda há um grande estoque de várias espécies, como o pau-brasil (Caesalpinia echinata), com cerca de dez mil mudas, o ipê-amarelo-do-brejo (Tabebuia umbellata), com duas mil mudas, e castanha do maranhão, com três mil mudas.

No entanto, o objetivo de Mattei, daqui em diante, é transformar a unidade em um centro de estudos e melhoramento genético de espécies nativas. Para isso, até o final do ano ele pretende concluir o Plano de Manejo da unidade para ordenar e elevar a visitação pública e fortalecer a pesquisa. A Flona possui área de laser, mas ainda é pouco utilizada pelos moradores da cidade. Em 2008, a média mensal de visitantes girou em torno de 260 pessoas. "Nossa intenção é que esses 250 hectares de multipliquem pelo Vale todo", diz Vinicius Mattei, de olho na recuperação de um vale já muito devastado.
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