O processo de ocupação da área urbana de Cuiabá foi e continua sendo feito, predominantemente, sem planejamento ou de forma inadequada às necessidades de manutenção do equilíbrio ambiental que permita a conservação das nascentes e dos córregos, das áreas verdes e do equilíbrio climatológico. Mesmo com unidades de conservação como os parques Mãe Bonifácia, Massairo Okamura, Tia Nair, Zé Bolo Flô, Morro da Luz, Horto Florestal e áreas de preservação permanentes (APPs) em boa parte dos 24 córregos e dos rios Cuiabá e Coxipó, a cidade vem perdendo sua vegetação de maneira acelerada, mais intensamente nos últimos cinco anos. Pelos cálculos de pesquisadores nas áreas de botânica, climatologia e geologia, há dez anos Cuiabá tinha mais de 150 mil hectares de matas de Cerrado nos 322 mil hectares de seu território. Hoje, estas áreas estão reduzidas a 80 mil hectares.
Ao fazer estudos para caracterizar APPs e zonas de interesse ambiental (Zias) no município, o Instituto de Pesquisas Mato-grossense (Ipem), ligado ao Grupo de Pesquisas em Cartografia Geotécnica e Dinâmica Superficial da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), constatou que um dos principais motivos da redução das APPs em Cuiabá deve-se à destruição de córregos e nascentes. São áreas muito suscetíveis ao assoreamento, erosão e, consequentemente, ao desequilíbrio hidrológico que acaba refletindo na substituição da tipologia vegetacional nativa por espécies exóticas, sendo muitas vezes, impossível a recuperação da funcionalidade ecológica.
"Cuiabá deixou de ser a "Cidade Verde", título que orgulhosamente ostentava no passado. Notamos também o desaparecimento dos quintais e ruas arborizadas, além de insuficiente existência de praças públicas convenientemente arborizadas e de parques municipais, que formam áreas de descontração e lazer para a população em geral, especialmente a mais carente" diz o geólogo e coordenador da pesquisa, professor Prudêncio Rodrigues. Uma solução apontada no trabalho realizado é a preservação de Zias para impedir a ocupação desordenada e a degradação ambiental. Três destas áreas estão localizadas na nascentes do córrego Baú, no setor Norte da cidade, com uma área de 174,137 hectares, e na Barra do rio Coxipó, na confluência com o Cuiabá, nas proximidades da avenida Beira Rio e da colônia São Gonçalo, apresentando área de 99,833 hectares.
Prudêncio cita ainda uma área situada à margem direita do rio Coxipó, defronte à avenida das Torres, com superfície de 35,010 hectares, remanescente de vegetação florestada, que bordeja a faixa de APP do rio. "As Zias tem a função de conservar as raras formas vegetacionais existentes na malha urbana de Cuiabá. Se preservadas, serão usadas como refúgio de animais e também como amortecedores das ilhas de calor que ocorrem em vários pontos da cidade. No entanto, temos orientado a prefeitura de Cuiabá a transformar estas áreas em parques municipais para que a população tenha acesso e possa usufruir da natureza", disse.
As APPs e as Zias, incluindo-se aqui as unidades de conservação na forma de parques municipais, totalizam cerca de 2.681,277 hectares, ou 12,83 % do território do município - são 1.468,874 ha de APPs, 903,422 ha de Zias e 308,981 hectares de áreas propostas para parques. "A maior parte dessas áreas encontra-se alterada pela forma desordenada de ocupação, exigindo estratégia e ações que permitam reabilitar o equilíbrio hidrológico, harmonizando a paisagem, e criando situação de estabilidade ecológica", conclui o professor.
http://www.gazetadigital.com.br/materias.php?codigo=277618&codcaderno=12&GED=6936&GEDDATA=2010-11-30&UGID=977e7e3b53bc30e26282a5185b5ce106
Cerrado
Unidades de Conservação relacionadas
- UC Mãe Bonifácia
- UC Massairo Okamura
- UC José Inácio da Silva (Zé Bolo Flô)
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