Avaliação participativa repercute em múltiplos olhares no III Seminário

Gestão Participativa - www.gestaoparticipativa.org.br - 03/07/2009
Os avanços no envolvimento de diferentes grupos da sociedade com a gestão das Unidades de Conservação foram acompanhados de perto pelo projeto de Capacitação em Gestão Participativa de UCs. Por meio de processos cuidadosos de avaliação, as transformações no aprendizado das pessoas puderam ser melhor percebidas pela equipe do projeto junto ao Mater Natura. E parte desse aprendizado foi discutida por um dos consultores do projeto, o educador Marcos Ortiz, no III Seminário de Gestão Participativa em UCs.

Ao debater o papel da avaliação frente aos envolvidos no projeto, Marcos destacou a importância de se mensurar as mudanças pelo quanto foi possível aprender com a experiência. "Não é medir o que está certo ou errado, mas buscarmos a auto-avaliação, como cada um observa o que mudou na realidade da gestão participativa ao longo do tempo. A idéia de participação também implica no compromisso de todo o sistema envolvido na iniciativa, e não só de alguns".

Duas situações foram particularmente enfocadas na avaliação feita pelo projeto do Mater Natura: como o processo decisório na Unidade de Conservação tem ocorrido; e como essa avaliação será comunicada no âmbito dos Conselhos Gestores. Para tanto, foram aplicados dois questionários em períodos distintos com os cerca de 180 envolvidos nas capacitações, os quais questionavam desde a motivação, a autonomia e o potencial de formação de redes, até o planejamento, gestão e monitoramento para a participação, a legitimidade do processo participativo e o respeito ao tempo de aprendizado das pessoas. A disseminação de valores e práticas participativas para outras instituições e nas políticas públicas também foi avaliada.

Segundo Marcos, o conhecimento obtido nesse intervalo permite constatar que o projeto fez a diferença para todos os participantes, cujo próprio progresso pessoal foi afetado pela iniciativa. Em relação a mudanças frente à gestão participativa, cerca de 90% consideraram o processo positivo. Paralelo ao questionário, os participantes também desenharam 'mapas mentais' sobre como a gestão ocorre nas suas UCs. Com isso, foi possível confirmar que a democracia na gestão cresceu, embora haja muito o que caminhar no aperfeiçoamento das formas de compartilhar poder.

Mais do que atender a indicadores quantitativos, buscou-se conhecer as transformações que o processo pedagógico provocou nas pessoas e no modo delas participarem, o que segundo a coordenadora do projeto no Mater Natura, Fabiana Prado, permite à ferramenta ser usada em outras circunstâncias. "Com isso em mãos, queremos olhar para fora e fazer com que a avaliação seja incorporada por qualquer Conselho Gestor", destaca Fabiana.

Na opinião de Marcos Ortiz, o desenvolvimento do seminário é outro indicador do engajamento das pessoas, o próximo desafio está em institucionalizar essa participação para que as políticas de gestão das UCs se consolidem.

Já a representação das comunidades no seminário foi tema de questionamento pela platéia, discussão compartilhada também pela equipe do Mater Natura. Segundo Neluce Soares, da ONG, do universo de 180 participantes do projeto, 77 eram do segmento comunitário, mas ainda usaram pouco desse espaço aberto pelas capacitações. "É importante questionar se o projeto conseguiu chegar a essa base da comunidade", colocou.

A baixa participação nos momentos da capacitação do projeto reflete o contexto de dificuldades materiais e práticas de muitas famílias, inclusive de se ausentarem das atividades produtivas, embora a presença das comunidades venha aumentando no histórico dos seminários. "Outra reflexão é a assimetria dessa participação ao longo dos territórios, em alguns lugares conseguimos chegar mais na 'base'", reflete Fabiana.

Para a representante da sociedade civil da APA da Baleia Franca, Maria Aparecida, a Cida, a postura de participação está começando a surgir nas comunidades, enquanto os gestores das Unidades de Conservação também devem transmitir essa idéia e partilhar responsabilidades com a população. "Os gestores precisam saber chegar nas comunidades e nós, que estamos aqui, passar o que aproveitamos desse momento". Pescador artesanal da região, Aristides, ressaltou: "é difícil parar as atividades para viajar, mas se eu não venho, quem vai representar aqueles que convivem no dia-a-dia com a reserva?"
UC:APA

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