Pesquisador do ICMBio registra pela primeira vez espécie de jacaré em reserva de Roraima

ICMBio - www.icmbio.gov.br - 21/10/2009
Roraima era o único estado da região amazônica que não tinha registro científico do jacaré-pedra ou jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus). Mas essa situação mudou. O réptil foi visto e fotografado pelo biólogo e analista ambiental Bruno de Campos Souza, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), na Estação Ecológica Maracá, em Roraima, no extremo norte da Amazônia brasileira.

O biólogo deparou-se com o animal nas corredeiras do rio Tiporém, no furo (trecho de água entre arvoredos e plantas aquáticas, navegável, por meio do qual rios e lagos se comunicam entre si) Santa Rosa, no interior da Esec, quando acompanhava pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) numa expedição científica à unidade de conservação, para estudo de peixes (ictiologia).

"Pela primeira vez a espécie foi registrada em Roraima. Havia registro dela em quase toda a amazônia, menos aqui. E aconteceu por acaso: foi durante uma expedição em que acompanhei os pesquisadores do Inpa que realizavam estudos e monitoramentos de peixes", conta o biólogo. Com a descoberta, o Estado de Roraima e a Esec igualaram-se aos estados da Região Norte e passaram a ter o registro das quatro espécies de jacarés que ocorrem na amazônia.

O achado inédito foi um estímulo para Bruno Souza, que aproveitou a oportunidade para registrar a existência de outras duas espécies que ainda não haviam sido listadas para a estação ecológica e para iniciar uma pesquisa sobre jacarés. Ele conta que a descoberta reforçou a vocação da estação ecológica para a pesquisa e proporcionou a ele a oportunidade de pôr em andamento um estudo sobre os jacarés da região, incluindo aí a nova espécie.

Um estudo preliminar da descoberta foi apresentado recentemente no I Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica do ICMBio, realizado entre 26 e 28 de agosto, na sede do instituto, em Brasília, com o título "Registro da ocorrência de jacarés (Alligatoridae) na Estação Ecológica de Maracá (RR), extremo norte da amazônia brasileira".

Segundo Bruno Souza, os indígenas da região dão ao animal o nome de jacaré do buraco. São predadores importantes que ocupam o topo da cadeia alimentar nos rios da região. Com a pesquisa, a ser finalizada em 2010, Souza pretende esclarecer questões sobre a distribuição das espécies, o uso do ambiente e o estado de conservação dos jacarés.

BIOTECNOLOGIA - Trata-se de um dos primeiros estudos sobre bioecologia de jacarés em execução no estado, com o qual ele pretende obter o grau de mestre na Universidade Federal de Roraima (UFRR) e colaborar com novas informações com o plano de manejo. Poucos estudos científicos sobre fauna e flora foram realizados na unidade da Federação. Roraima, segundo Souza, é considerada praticamente inexplorada cientificamente. "Poucos estudos foram realizados na região porque se trata de um estado isolado, ao norte do País, cujo acesso via terrestre é relativamente recente", informa o analista ambiental.

Bruno Souza explica que "no Brasil ocorrem seis espécies de jacarés, todas da família Alligatoridae. Para a Amazônia são quatro: Caiman crocodilus Linnaeus 1758, Melanosuchus niger Spix 1825, Paleosuchus palpebrosus Cuvier 1807 e Paleosuchus trigonatus Schneider 1801. Para Roraima eram listadas apenas as três primeiras espécies, as mesmas que já haviam sido encontradas na Estação Ecológica de Maracá, embora oficialmente apenas a ocorrência de C. crocodilus tivesse sido registrada para a unidade de conservação".

Os jacarés vivem associados a rios e à vegetação das margens dos rios, lagos, lagoas e riachos. "Estudos demonstram que existe uma relação entre os tipos de habitats usados pelas diferentes espécies de crocodilianos e sua susceptibilidade à extinção. Para algumas dessas espécies a conservação dos ambientes aquáticos parece ser relativamente suficiente para a sua manutenção", explica.

Diferentemente das outras espécies amazônidas, o jacaré-pedra ocupa habitats distintos. Ele geralmente é observado em trechos encachoeirados de grandes rios e em igarapés dentro da floresta. Está distribuído nas bacias Amazônica e do Orinoco, bem como nos rios da costa das Guianas. Espécie considerada pequena, os machos não excedem 1,7 metros; e as fêmeas, 1,4 metros de comprimento total.

DESCONHECIMENTO - O biólogo informa que "a despeito dos estudos ocorridos até agora, ainda há muito a ser conhecido sobre a biologia, a ecologia e a conservação das espécies de jacarés". Ele afirma que é necessária a intensificação das pesquisas ligadas ao conhecimento do comportamento e o grau de suscetibilidade ante as modificações antrópicas (modificada pela intervenção humana) no ambiente. "Faltam conhecimentos, principalmente, sobre a distribuição e a dinâmica populacional das espécies de jacarés da Amazônia", garante.

Bruno Souza informa que a Esec de Maracá está aberta para instituições e centros de pesquisa, bem como para pesquisadores, que queiram realizar estudos na região. Ele avisa que a estação ecológica está em fase de elaboração de seu plano de manejo, por isso, abriga estudos de longa duração.

Com 101.312 hectares, a Esec de Maracá está situada entre os municípios de Amajari e do Alto Alegre, em Roraima. Foi uma das oito primeiras estações ecológicas criadas no Brasil no início da década de 1980. Coberta por uma vegetação típica de floresta, com pequenas manchas de savana, a Esec está situada numa região de transição entre a planície amazônica e o planalto das Guianas.

Formada pelas ilhas de Maracá - a terceira maior ilha fluvial do mundo (em tamanho, ela perde apenas para a Ilha do Bananal, em Tocantins, e para a Ilha de Marajó, no Pará) - e mais duzentas outras ilhas, ela apresenta áreas com extensos buritizais e áreas de transição entre os ecossistemas de floresta e de savana.

UC:Estação Ecológica

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