O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está discutindo a criação do Parque Nacional Altos da Mantiqueira (PNAM). O objetivo É proteger as últimas grandes áreas contínuas de florestas e campos de altitude da Serra da Mantiqueira, entre o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Estadual de Campos de Jordão, região de importância paisagística e que abriga nascentes de centenas de rios que abastecem cidades do Vale do Paraíba e até do Rio de Janeiro.
A área do novo Parque Nacional vai abranger 14 municípios em três Estados. São eles: Itamonte, Itanhandu, Passa Quatro, Marmelópolis e Delfim Moreira, em Minas Gerais; Queluz, Lavrinhas, Cruzeiro, Piquete, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Campos do Jordão e Santo Antônio do Pinhal, no Estado de São Paulo; e o município de Resende, no Rio de Janeiro. Dos mais de 87 mil hectares propostos para a criação do Parque Nacional (PARNA), 65,6% encontra-se no estado de São Paulo, o que corresponde a 57.363,8 hectares. O estado de Minas Gerais possui 32,7% do recorte proposto, equivalendo a 28.548,9 hectares, e o estado do Rio de Janeiro responde por 1,7% da proposta, ou 1.470,9 hectares.
Resende é o único município fluminense inserido na proposta, contabilizando 1.470 hectares, quase 2% do território municipal. Destes, 924 hectares (63,3%), segundo o mapeamento do INPE (2003), correspondem a florestas em estagio avançado/médio de sucessão, 14,8% a florestas em estagio inicial de sucessão e 151 hectares de campos de altitude, entre outros usos. Sucessão ecológica é o nome dado à seqüência de comunidades, desde a colonização até a comunidade clímax para determinado ecossistema.
A proposta de se criar esse Parque Nacional protegendo os últimos remanescentes de vegetação nativa deste trecho da Mantiqueira foi elaborada inicialmente pelo analista ambiental Fernando Sivelli, que trabalhou por dois anos na equipe da APA (Área de Proteção Ambiental) Serra da Mantiqueira. Ela foi encampada pela Força Tarefa Mantiqueira desde a criação do grupo, que passou a promover reuniões para discutir suas estratégias, tendo a criação do parque como principal bandeira. No total foram realizadas seis reuniões da força tarefa, que conta com as participações de representantes de diversos parques nacionais, do Ibama (Instituo Brasileiro do Meio Ambiente), órgãos ambientais estaduais, entre outros.
Ecossitemas ameaçados
De acordo com dados da Força Tarefa, muitos ecossistemas dessa região encontram-se fragmentados e bastante ameaçados por culturas de reflorestamento de Pinus e Eucalipto. Informações oficiais disponibilizadas no site do ICMBio garantem que os bairros rurais não serão desapropriados. O instituto tomou cuidado em delimitar a área do futuro parque deixando de fora as comunidades rurais. Serão desapropriadas somente áreas de florestas e campos. A intenção é unir os fragmentos de florestas no futuro para que ela tenha uma área continua de atuação. O parque prevê o fim da plantação de Pinus e Eucalipto, mas estas áreas não serão removidas de imediato.
Os proprietários realizarão o manejo necessário, sem expandi-las, para que depois estas áreas possam ser recuperadas. As estradas que cruzam a área do parque não serão impedidas, principalmente as que ligam o Estado de São Paulo ao de Minas Gerais, mas algumas estradas rurais poderão ser fechadas, desde que as áreas façam parte das desapropriações. Segundo o presidente da Agência de Meio Ambiente de Resende (Amar), o biólogo Paulo Fontanezzi, a criação do novo parque será benéfica tanto para Resende quanto para a região.
-Os municípios devem ampliar as unidades de conservação, sejam elas municipais, estaduais ou federais, porque essas unidades preservam a fauna e flora do local. Isso é muito importante para a biodiversidade porque através do conhecimento e pesquisas desenvolvidas nessas áreas nós podemos concluir se estamos evoluindo na preservação da Mata Atlântica ou se estamos trazendo problemas ao desenvolvimento dos ecossistemas", explicou Fontanezzi, acrescentando que o parque vai preservar uma área da Mantiqueira dentro do município de Resende onde existem muitas nascentes.
- A proposta para o novo parque abrange áreas de nascentes que abastecem o Rio Paraíba do Sul, que vem sedo poluído e degradado há muito tempo pela monocultura do café, e agora mais recentemente pela monocultura do eucalipto, além da poluição causada pelo desenvolvimento urbano e industrial. A melhor forma de se fazer educação ambiental para a preservação do clima, flora e fauna é através da manutenção e criação de unidades de conservação. Hoje Resende conta com três Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e já existem mais oito pedidos para a criação de novas unidades que estão sendo avaliadas junto a Amar e ao Inea (Instituto Estadual do Ambiente)- revelou.
De acordo com o montanhista aposentado Júlio Spanner, integrante do Grupo Excursionista Agulhas Negras (Gean) há mais de 20 anos, a criação do novo parque deve ser analisada com muito critério. - Conheço bem a área onde o governo quer criar ao parque, já escalei várias vezes a Pedra do Baú, em Campos do Jordão, mas acho difícil avaliar se a criação de um parque é benéfica porque muitas vezes isso gera mais problemas do que soluções. Por exemplo, o Parque Nacional da Bocaina está até hoje cheio de problemas, muitos proprietários ainda não foram indenizados.
O Parque Nacional do Itatiaia está em vias de ser terceirizado, então nós temos de pensar: será que uma empresa que vem de fora com o intuito de ganhar dinheiro com o parque vai cuidar melhor do que as pessoas que são da região, que tem carinho pelo local onde vivem? De que adianta criar o parque para depois entregar para terceiros? Isso tem que ser pensado e levado em conta", alertou Spanner.
Terceirização de parque está em andamento
Sobre a terceirização do Parque Nacional do Itatiaia à que o montanhista Júlio Spanner se refere, uma notícia oficial no site do ICMBio confirma que no último dia 29 de março o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lançou, em Teresópolis (RJ), os editais de concessão de serviços de apoio à visitação nos parques nacionais da Serra dos Órgãos e do Itatiaia, que ficam na região serrada do Rio de Janeiro, e parque marinho dos Abrolhos, no litoral da Bahia.
Os editais incluem serviços como pousadas, abrigos de montanha, lojas de souvenir e cafeterias na Serra dos Órgãos e no Itatiaia, além de operadoras de mergulho em Abrolhos. A ação faz parte do Programa Turismo nos Parques, que pretende oferecer melhor estrutura para os visitantes. Estão previstos ainda para este ano novos editais em 11 parques nacionais, como Fernando de Noronha, Caparaó e Chapada dos Guimarães. As concessões serão oferecidas em concorrência pública no prazo de 60 dias.
No Parque Nacional do Itatiaia, o primeiro parque nacional brasileiro, serão lançados dois lotes de concessão. Serão ofertados, como passo inicial na estruturação da sede principal do parque, os serviços de transporte único, estacionamento, cobrança, lanchonete, cafeteria e loja do Centro de Visitantes. A parte alta, que protege o Pico das Agulhas Negras, também será contemplada com a concessão do abrigo Rebouças, camping e a cobrança de ingressos. Os visitantes poderão se alojar dentro do parque.
De acordo com informações do ICMBio os novos serviços oferecidos devem consolidar os parques nacionais como principal destino de ecoturismo e turismo de aventura no país, oferecendo estrutura no nível dos mais famosos parques nacionais do mundo. Mais informações sobre as terceirizações podem ser obtidas pelo telefone (21) 2152-1100.
http://www.diariodovale.com.br/noticias/4,20256.html
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