Uma cidade clandestina dentro da Floresta do Bom Futuro

O Globo, O País, p. 3 - 14/06/2009
Uma cidade clandestina dentro da Floresta do Bom Futuro
Área vai passar à responsabilidade do estado, legalizando posseiros

A impunidade dos crimes ambientais na Amazônia Legal leva a situações políticas complicadas para o país, alerta o Imazon. Foi o caso de Raposa Serra do Sol, resolvido neste ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A nova preocupação é a maior reserva ambiental de Rondônia, a Floresta Nacional do Bom Futuro, unidade de conservação criada em 1988 com 274 mil hectares e hoje uma das mais devastadas do país. Segundo o Imazon, entre agosto de 2007 e abril de 2008, foram desmatados ali 3.807 hectares.

- Quando o governo resolveu agir, já havia uma cidade lá. A situação ficou tão complicada que, agora, de floresta nacional, a região deve se transformar em APA (Área de Proteção Ambiental), beneficiando muita gente que ocupou e desmatou a área de proteção.

É uma perda. Com a impunidade nesse nível, tomara que toda a floresta não acabe assim - disse o pesquisador do Imazon Paulo Barreto.

Rio Pardo é o nome da cidade clandestina criada dentro da Floresta Nacional do Bom Futuro. A cidade tem igrejas, escolas, posto de saúde, várias serrarias, plantações, e fica a 70 km de Buritis (RO). A população é estimada em 15 mil moradores. A ocupação começou nos anos 90, depois de a floresta ter sido considerada de proteção legal.

As famílias começaram a chegar impulsionadas pela retirada da madeira.

Hoje, reivindicam a posse da área.

- O gado ocupa grandes áreas. Ficou impossível para o governo tirar a cidade de lá - diz Pereira.
Acordo entre ministério e governador gera protestosAcordo entre o Ministério do Meio Ambiente e o governador de Rondônia, Ivo Cassol, do início do mês, gera protestos de ambientalistas.

Em troca de uma licença estadual para a Usina Hidrelétrica de Jirau, a Floresta Nacional de Bom Futuro, hoje de responsabilidade da União, será entregue ao estado, que legalizará a situação dos ocupantes.

As entidades, como a Amigos da Terra, são contra o acordo. Segundo as entidades, as famílias invadiram a unidade de conservação e hoje criam mais de 40 mil cabeças de gado.

A região se tornou um dos epicentros do desmate descontrolado.

Segundo o relatório "O fim da floresta", produzido pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), ano passado, a Bom Futuro sofre
invasões desde 2000. Essas invasões tinham o objetivo de retirar madeira da unidade de conservação e promover o loteamento
para agricultores e fazendeiros.

Com o acordo, assinado no último dia 2 de junho, passarão ao domínio da União três unidades de conservação estaduais. Parte
delas, inclusive, será alagada pela usina de Jirau, segundo as ONGs. O acordo foi assinado pelo ministro do Meio Ambiente,
Carlos Minc, o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo José Fernandes Barreto Mello, e o governador de Rondônia, Ivo Cassol.

O acordo prevê que a Bom Futuro passe à responsabilidade do governo do estado. Será criada uma APA de 70 mil hectares, na região onde estão posseiros e grileiros e 40 mil cabeças de gado. O território restante, de 132 mil hectares, formará uma unidade de conservação federal sob administração do ICMBio. As Unidades de Conservação Estadual Floresta Estadual Rio Vermelho A e B, Estação Ecológica Serra dos Três Irmãos e Estação Ecológica Mujica Nava, com 180 mil hectares, passarão à responsabilidade do ICMBio.

O Globo, 14/06/2009, O País, p. 3
UC:APA

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