A 12ª Conferência das Partes da Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, mais conhecida como Convenção de Ramsar, terminou com um gol a favor da conservação do Pantanal. Uma articulação liderada pelo governo boliviano, com apoio de representantes do WWF no Brasil, no Paraguai e na Bolívia, além de delegados dos governos dos três países, conseguiu inserir no texto final da reunião um parágrafo que reconhece e reforça a importância de ações conjuntas para conservar e desenvolver de forma sustentável a maior planície inundável continental do planeta.
Agora, as oportunidades de trabalho conjunto crescerão à medida que os países internalizem essa ideia em suas estratégias de desenvolvimento e conservação, com apoio da sociedade civil organizada e outros setores.
"Se quisermos proteger o Pantanal e a Bacia do Rio do Prata de forma mais efetiva, temos de olhar para todo o bioma, toda a região, e agir de modo integrado. Foi isso o que defendemos na Conferência e incorporamos ao planejamento das ações do WWF nos três países", disse Júlio César Sampaio, coordenador do Programa Cerrado-Pantanal, do WWF-Brasil.
O programa desenvolve ações que integram conservação, desenvolvimento sustentável, boas práticas produtivas, inserção em políticas públicas e articulação entre governos.
As próprias diretrizes da Convenção de Ramsar embasam esse tipo de ação. Em seus pilares, o acordo global iniciado em 1971 já prevê iniciativas regionais que devem ser combinadas na defesa de seus sítios.
Em 1993, os países que seguem Ramsar reconheceram que o Pantanal é um sistema integrado, independente das fronteiras geopolíticas. Já a Iniciativa Regional de Conservação e Uso Sustentável das Zonas Úmidas da Bacia do Prata, incluída no escopo da Convenção, assim como o Tratado da Bacia do Prata, de 1969, também garantem legitimidade à atuação conjunta no Pantanal.
"Manteremos contato direto e apoiaremos os governos nessa discussão e na implantação de suas diretrizes, para que a mesma possibilite a união da sociedade, da iniciativa privada e do poder público dos três países", informou Aldem Bourscheit, especialista de Políticas Públicas do WWF-Brasil.
Riqueza sem fronteiras - O Pantanal abriga 3 sítios Ramsar*, mundialmente reconhecidos como fundamentais para a conservação de zonas úmidas, e trata-se de uma região transfronteiriça que ocupa uma área de 624.320 km2 - pouco maior que o estado de Minas Gerais - 62% ficam no Brasil, 20% na Bolívia e 18% no Paraguai.
Por isso, qualquer abordagem que leve em conta a conservação da água, da biodiversidade e dos serviços ambientais oferecidos pela região precisa ser partilhada entre os três países. Deve incluir, também, ações não apenas na planície, mas também nas cabeceiras dos rios que nascem nas regiões mais altas e que alimentam a vida no Pantanal, fortemente dependente dos ciclos anuais de cheias e de secas.
Afinal, a natureza desconhece fronteiras. Os impactos das atividades humanas nas cabeceiras dos rios que formam o Pantanal podem se refletir a centenas de quilômetros de sua origem, repercutindo sobre o ambiente e os modos de vida na planície inundável nos outros países.
Por isso, cientistas alertam que alterações no ambiente natural pantaneiro podem colocar em risco a vida de espécies, alterar o equilíbrio ambiental e climático e afetar drasticamente populações humanas.
Segundo os estudiosos, áreas úmidas estão sumindo do mapa. Estima-se que 64% dessas áreas já desapareceram desde 1900. São drenadas ou aterradas para os mais diversos fins. Agropecuária, represamentos, canalizações, poluição e obras que afetam rios e zonas costeiras estão entre as principais ameaças.
* Zonas úmidas brasileiras incluídas na Lista Ramsar
http://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?46142
Pantanal
Unidades de Conservação relacionadas